CREDO
Acreditei em seu amor
Feri-me profundamente.
A lâmina de sua traição
Perfurou órgão vital da minha morte!
Fratura exposta de um coração dilacerado,
Peito aberto, alma fechada.
Encarcerado, ainda,
Talvez sempre o seja,
Sentença de um tribunal tendencioso,
Que o vitimado condena!
Mortalmente ferido,
Amor ainda exala,
Este coração desavergonhado,
Mesmo esnobado, pisoteado.
Mar de lágrimas rubras
Manchou minh’alma límpida,
Jorrou-me fervente na face,
Abriu ferida, dor imensa!
Restou profunda cicatriz,
Certificado de desilusões vividas,
Vida mortificada em vida.
Abduzida a outros sonhos,
A outros amores, desamores.
Rosa escarlate, pétalas macias,
Cujo néctar oferece barato
A qualquer zangão, sedento.
Doçura outrora,
Fel agora,
Veneno amanhã!
Tento livrar-me das amarras,
Mas suas garras cravam-me,
Como uma águia voraz,
E conduz-me ao alto,
Ao etéreo, ao divino,
Em seu ninho dividido.
Sem piedade conduz-me
Ao espaço sem destino.
Resgata-me do passado,
Aprisiona-me no eterno,
Tortura-me no presente.
Com futuro incerto,
Com uma única certeza:
Eu, simples mortal,
A mendigar uma gota desse néctar,
Que provoca delícias aos ”Deuses”,
Em troca, oferendas de puro ouro,
Contraste ao meu pobre amor pobre,
Com certeza, opaco aos seus olhos,
Visto ser metal barato, que não reluz.
Música: El condor pasa - Daniel Alomía Robles e letra de Julio de La Paz (pseudônimo de Julio Baudouin) - Execução de Richard Clayderman
Imagem: Internet