Espectro
Quando o viver se torna um tormento,
Quando os sonhos se fazem em vão,
Quando as sombras nos trazem um alento,
Quando a luz nos ofende a visão.
Quando o álcool se torna um remédio,
Quando a lágrima uma grande amiga,
Quando a felicidade se transforma num tédio,
Quando a melancolia soa como uma doce cantiga.
Quando a oração já não faz mais sentido,
Quando o amor é um imenso castigo,
Quando, no caminho, me sinto perdido,
Quando a saudade é um sentimento antigo.
Quando sua presença já não me causa emoção,
Quando nada mais no mundo tem importância,
Quando o acordar já não tem mais razão,
Quando não distingo a humildade da arrogância
Então o que sou, um espectro do meu passado, da minha glória?
Renego toda a minha existência, toda a minha história,
Me apego às minhas dores, aos meus horrores, à minha apatia, ao desconforto,
Que, por desgraça, por castigo, respiro ainda, apesar de há muito já morto.