Saavedra Valentim

Manifestações da alma

Textos


INCERTEZAS!
 
Um ser perdido, tateando na escuridão da existência.
Por mais de uma vez tropeçou, caiu, se levantou.
Voltou a cair e, sem ninguém para ampará-lo,
Agonizou a agonia dos desgraçados,  
Chorou o choro dos desprezados,
Sofreu o sofrimento dos infernizados.  
Se arrastou pela vida, não viveu, só padeceu!
Era um amor para além da vida, em vida.
Nada pedia, nada exigia, necessitava de tão pouco!
 Carinho, carícias, amor, tudo lhe foi negado. Era só o que pedia!
Nem era um pedir, mas um implorar, um grito da alma!
A esse amor entregou a sua vida. Jovem ainda,
Amou uma existência inteira, com tanta intensidade,
Como intensos eram a sua vida e seus sentimentos.
Foi sempre só e na solidão da alma, chorou, clamou,
Não houve eco e só, ficou. Ficou muito só, de tão só,
Imagens de dias gloriosos invadiram suas lembranças,
Fatos distantes, desconexos, quiçá irreais, fantasias da mente.
Ela foi tudo que ele mais quis nesta vida insana,
Lutou com todas as forças, derrubou barreiras, preconceitos
E conquistou seu troféu, subiu ao ponto mais alto,
Ao pico do mundo, foi o seu auge, sua glória!
Conduziu-a ao altar, véu e grinalda, linda, uma santa!
E chorou o choro dos enternecidos, dos agraciados.
  Uma paz efêmera, logo condensada em gelo,
que o calor de sua paixão fez vapor, diluiu-se, virou nada,
Deixou-o desolado, conheceu a indiferença, o descaso.
Buscou a perfeição em um amor imperfeito, desvirtuado,
Só imperfeição encontrou! Que mais podia esperar?
Assim são os corações dos manipuladores: empedrados,
Cristalizados, incapazes de abrigar sentimentos.
Da nobreza do amor, restou somente ressentimentos.
Ela o amou um dia? A obscuridade da mente alheia,
Impede uma leitura correta, clara do que ali se oculta,
O que lá se cultua. Imagem de quem ali se projeta,
Que lembranças lhe vêm e vão? Que segredos detém?
Quão cruel pode ser um padecer de incertezas,
 Um coração apertado, uma alma agoniada, um ser ignorado?
Parcos momentos felizes e uma infinitude de desventuras.
Cansou-se da dor, da dolorosa vida, exorcizou sua alma.
Convidou-a a rumar para além do seu mundo
E arejou e faxinou o seu coração, preparando-o
A tentar a sorte em outras bocas, em outras entranhas,
Em novas alcovas. Recém liberto, partiu sem rumo, sem destino,
E se preparou pra sorrir e tornou a chorar, de nada adiantou.
Mudaram os endereços, mas as moradoras eram ela mesma,
Todas tinham a mesma cara, o mesmo sorriso,
Aquelas mesmas feições de quem ele enxotou, dispensou.
Lá estava o seu sorriso, as suas curvas, a sua maldade.
Ela ainda habitava aquele coração em desalinho, desguarnecido.
Fazer o quê, senão se render ao infortúnio?
Morreu em vida, viveu a morte pelo resto da vida.
Assim era a sina daquele ser mal-amado.
Castigo? Carma?  

Só Deus sabe!  

Música: Ne me quitte pas, de Jaques Brell, por Maysa 
Imagem: Google (Autor desconhecido)
 
Saavedra Valentim
Enviado por Saavedra Valentim em 03/03/2015
Alterado em 11/09/2020
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