ROSA RUBRA
Escrevo-te estas mal traçadas linhas para te levar boas novas.
Talvez não te tragam alegrias, somente o ódio e o ciúme irão despertar.
Mas com o ímpeto e furor juvenil, que pensei não mais me contaminar,
Saiba quantas verdades irei te contar, cantando posso atestar em versos e trovas.
No meu céu pairavam nuvens negras, raios e trovões. Pura solidão!
Lá fora céu iluminado, azul anil. Contraste com esplendor!
Uma rosa seduziu-me a acariciá-la, a envolvi com a mão.
Talvez por timidez ou emoção, senti de suas pétalas o rubor.
Sem motivo, fechou-se como um botão,
A magoei? Juro que me frustrou sua reação!
Mas, novamente se abriu num repente.
O rubor mantinha, mas o olhar doce e sorridente.
Sussurrou-me quase inaudível o seu bem-querer,
Custou-me acreditar o seu amor merecer.
Pedi-lhe confirmar, tornou a sorrir, sua pétala me tocou.
Que maciez, que suavidade, sua declaração me emocionou.
Perguntei-lhe sobre seus espinhos, se devia temê-los.
“São garras afiadas” - disse-me – “me protegem de cravos insolentes,
Obtusos, sem delicadezas. Mas flexíveis aos amantes dolentes,
Em busca de amor, carinho e compreensão. Não posso detê-los”.
Respondi então com astúcia, com firmeza:
“O que vier de mim, mal não lhe causará, garanto.
Fica ao meu lado, mantenha a chama acesa,
Tudo que possa ofendê-la, causar-lhe repulsa, ou medo, espanto”.
“Sou um desses que anda pelo mundo sem destino,
Buscando aplacar sua solidão, seu desatino.
Que chora o choro da alma, em busca de acalanto.
Se encontra alguém como você, termina seu desencanto”.
Sem intenção de traí-la, vi teu rosto nela. Estavas tão linda!
Enlevou-me a ponto de renasceres em mim, castigo!
Revirou meu âmago, confundiu minha mente, vives ainda,
Para me punir. Mas não sofrerei só, podes crer, chorarás comigo.
Exorcizei-te da minha existência, sem remorso, sem piedade.
Vai-te os braços de outro preencher, sua vida arruinar.
Deixa-me aqui com a minha rosa, com pudor, sem maldade,
Verdadeiro amor agora me domina, na retidão vou caminhar.
Despedi-me da rosa rubra, já com saudade.
Gotas de orvalho caíram como lágrima triste.
Se a levasse comigo duraria tão pouco, pura maldade!
Inevitável separação, ausência que meu peito não resiste.
Guardei-a no jardim da minha alma, a levá-la por toda a vida.
No crepúsculo da minha existência estarei com ela de verdade,
Que mais posso querer? Com ela no coração, a alma remida,
A maciez de suas pétalas e embriagado com seu perfume pela eternidade.
O céu do meu coração voltou a brilhar, coloriu, novamente azulou.
Só não se sente assim, quem por toda a vida se anulou.